Prólogo de um Sol Póstumo
Caim observou o céu noturno. Naquele exato momento ouve um brilho, tão claro e totalizante, que por alguns minutos demonstrou que a escuridão é a ausência de luz e não o contrário.
Uma cicatriz se formou, cortando o céu e tirando um pouco do seu tom escuro para adicionar tons de vermelho sangue, vindo diretamente do Sol que havia morrido. Caim estava feliz por não ter dormido cedo. Afinal, a morte do Sol só se observa uma vez na vida — ao contrário da morte de si mesmo.
A escuridão natural que vinha da noite morreu, o calor aumentava, e Caim notou algo peculiar: silêncio. Um silêncio absoluto se instaurou, tal assassinato faz de todos os habitantes da terra seu testemunho. Porém o desespero deveria engolir todos os seres e um grito do fundo da alma deveria surgir, ensurdecendo os ouvidos sensíveis de Caim, a alma deveria estar fria pela falta de sol? – Não, algo muito maior deveria acontecer.
Caim sorriu, sua boca, pequena como um verme magro, e seus olhos, pequenos e puxados, riram, Caim não lembra da última vez que sorriu; honestamente ele nem sabe se houve uma primeira vez pra isso. O sorriso, a felicidade do sorriso aumenta, ele gargalha, um tom sonoro para tal acontecimento, digno de respeito a tal algoz, mas Caim se perguntou – como se limpa a mão de tal algoz, capaz de tamanho pecado? – não importa, pois Caim tinha um objetivo, uma razão, como exorcista ele tinha o dever de caçar pecadores!
A felicidade passageira dele, como toda felicidade é na vida, durou pouco. Ele ainda tinha um objetivo, que levou até aquele matagal, aquela terra verde e viva que trazia tanto seres diferentes. O seu objetivo era encontrar um príncipe que agora é rei, o pai do tal príncipe, o Rei, morreu, e em desespero o príncipe sucumbiu à loucura. Louco ele percorreu sobre terra, deserto, mar. Tal feito é obviamente exagerado.
Outras notícias diziam que tal príncipe era um gorila e tinha 3 metros. Caim sabia que Abel, apesar de ser albino e estúpido, obviamente não teria 3 metros, mas como irmão de Abel, sabia que provavelmente ele estava mais próximo de gorilas do que de humanos civilizados.
Caim seguiu em direção a pequena vila onde tinha achado pista sobre o paradeiro do irmão.
A recompensa por achar Abel, vivo, era de 20 moedas de ouro, um homem pobre ao receber tal quantidade levantaria a mão aos céus agradecendo o SENHOR, tal quantidade é o suficiente para alimentar uma vila pequena por 1 ano, se um homem de uma família abastada encontrasse tal valor, agradeceria a sorte e destino, pois por pelo menos 1 ano ele não se preocuparia com dinheiro. Encontrar o corpo dele morto daria a recompensa de 1 moeda de ouro. Isso demonstra que a coroa queria o príncipe vivo, o que é raro, já que normalmente deveria ter uma grande linha sucessiva, e tal acesso de loucura deveria ser uma boa razão para deixar o príncipe encontrar seu próprio destino; talvez eles ainda tenham algum plano parecido e só querem mostrar um esforço público.
Caim notou algo naquela noite-dia, a morte do sol deixou o céu inteiro vermelho, ele sabia que ainda era noite, mas claramente esse céu vermelho não iria desaparecer. O céu, bêbado de sangue, engolia cada vez mais a escuridão, pintando tudo ao redor de vermelho, a morte caminhava a passo lentos, a morte de tudo que existia na terra, Caim, porém, sentia algo em si, uma motivação e sentido para tudo que existe, que ele nunca percebeu, é como se ele estivesse em um estado perpétuo de euforia e de luta ou fuga, todo o corpo dele, todos os instintos, afloram de tal maneira, que ele precisou controlar a respiração manualmente.
Então ele continuou caminhando pela longa estrada a frente. Caim preferia viajar de dia, mas ele andava muito decepcionado com a falta de pistas sobre o paradeiro de Abel, porém, recentemente, ele encontrou várias informações e resolveu continuar andando à noite, com cunho de chegar no seu objetivo o mais rápido possível e não dar chance de Abel fugir novamente.
O mundo, todo iluminado a noite, em um filtro escarlate, mostrava tudo com tal claridade e temor, mas Caim, observou a morte do silêncio. O desespero surgiu, e ele ouvia uivos famintos, não foi apenas Caim que foi possuído pelo instinto de sobrevivência, mas diferentes dos animais inferiores, Caim controlava suas emoções, suas vontades e desejos, e afiava eles, com todo o pudor e respiração necessário para tal ato. O que atormentava Caim era que provavelmente Abel não teria a mesma sofisticação, então ele apertou o passo em direção a vila que Caim foi avistado.
Caim seguiu, a estrada se tornava quente, o ar subia e esquentava o sangue, o calor se tornava vapor que ele inspirava, a existência de tudo ao redor foi tomado pelo escalate, a única paleta do mundo era o vermelho e calor.
Tochas começaram a aparecer na estrada, a chama guiava em uma direção, mas havia silêncio, o que era estranho, mesmo uma vila pequena deveria estar em gritos agora, ou o silêncio deveria ser dado pelo temor? Sem tremor, sem amor, o que cabe nessas situações é o temor mesmo.
O calor, temor e tremor, tudo isso ardia em sentido pra Caim, ele nasceu pra ser póstumo, ele não morreu, mas já viu tanto do inferno e dos demônios como um exorcita, que agora essa realidade, esse fluxo sanguíneo de mudança perpétua, a certeza da aniquilação humana. Caim nasceu morto e nasceu pra morrer, a tragédia é que ele viveu pro dia do julgamento ser agora.
Andando mais, Caim observou que a frente tinha uma quantidade grande de tochas ao redor de casas de palhas e barro, arcaicas e simples, como falavam que era tal vilarejo. Enquanto se aproximava ele observou casas vazias, havia apenas uma pequena igreja, um bar e 4 ou 5 casas, ele não se importou de contar, pois o que o preocupava era o vazio. Então ele foi em direção ao centro da vila e observou que a igreja também estava vazia. Porém ele ouviu barulho de garrafas no bar.
O bar não era diferente das outras casas, feito de barro e com teto de palha, a única diferença real era o tamanho, o bar era maior, com espaço para cadeiras. Ao se aproximar, a fragrância do lugar mudou, não tinha cheiro de suor e decadência, e sim de flores, Caim sabia que alguns daqueles cheiros eram de ervas medicinais ou de bruxaria. Como exorcista ele precisa saber disso.
Então o som aumentou, o tilintar das garrafas ficou mais agudo, passos, passos pesados, para todo o lado. Risinhos histéricos, e então ele entrou no bar, bateu na mesa, e apareceu o ser que fazia tal barulho. Uma mulher, idosa, e pequena, parecia frágil, porém tinha nariz largo e grande, pele negroide, Caim sabia que o povo local tinha essa tonalidade ou mistura dela, ele só não acostumava com isso, é como se ele andasse ao lados de sub humanos, provavelmente por isso o irmão fugiu para essa direção, uma atração natural de sub espécies.
— Olá, senhor. Vosmicê quer algo? — perguntou a senhora do bar.
— A senhora não está assustada com tudo que está acontecendo? — Caim franziu a testa. — Não consigo entender como alguém pode ficar tão calmo. Achei que era o único que reagiria assim.
— Todos da vila sabiam que tal feito iria acontecer — ela explicou, encostando no balcão. — Por isso cada um foi para uma direção diferente. Eu disse a eles o que iria acontecer e as consequências. Logo, cada um tomou seu caminho. E o senhor, por que está tão calmo?
— Fui treinado para sempre ser calmo. Do mesmo modo que a senhora foi criada para ter tais dons, eu fui ensinado a rastrear e caçar as bruxas. — Ele fixou os olhos nela, estudando sua reação. — Mas, dado ao momento atual e meu objetivo, é irrelevante tudo isso. Estamos todos no inferno. Qual é seu nome?
— Pode me chamar de Kúká, senhor. — Ela deu uma risadinha. — Mas se vosmicê quer saber meu nome real, é Maria. Todos me conhecem e me chamam apenas de Kúká, é um apelido de infância. Sobre o inferno, todos bebem, seja na terra ou no inferno. Todos amam a pinga e a cachaça. Por isso resolvi continuar aqui, mesmo sabendo das consequências.
— Bem, Kúká, eu não bebo — disse Caim, puxando um cartaz de dentro de seu casaco. — Mas vou precisar do seu álcool mais puro. E que a senhora me aponte onde o gorila albino está. — Ele colocou o cartaz na mesa e, sobre ele, dez moedas de ouro. — Esse é o pagamento por tudo que vou consumir, caso você me aponte onde o Rei Louco está.
Um sorriso surgiu no lado direito da Kúká, depois foi pro esquerdo, os grossos lábios levantaram e mostraram a boca desdentada da velha, ela nunca viu tanto dinheiro de uma vez, Caim notou que os olhos não demonstraram tanta ganância quanto ele esperava, ele já lidou com toda casta da sociedade e admirou isso na velha, ela estava apenas muito feliz, não parecia ter intenção de querer arrancar mais dinheiro dele. Ela apontou para a floresta ao redor em pontos específicos, dizendo quando ele foi avistado, como ele estava e onde ela achava que ele poderia estar agora baseado nos sons que ele fez.
Feliz, ela pega o dinheiro com as mãos, seus dedos pareciam gravetos, agarrava as moedas com um cuidado e zelo, ela transpirava uma felicidade palpável. Caim então pediu pra velha algumas ervas aromáticas e de cozinhar, além de pegar carnes e outras coisas. Ele notava, a cada erva que pegava, que seu olfato estava mudando, ele sentia o contraste dos cheiros, tinha peso, memórias e sabores em cada cheiro, mesmo sendo um bom cozinheiro, ele nunca notou isso antes. O ar em si parecia mais sublime, mais real, cada toque do ar era sentido e o acalmava. O vermelho noturno sobrepõe o instinto de dormir, mas Caim estava cansado, mesmo assim cozinhou.
Após acender a fogueira e colocar uma panela sobre apoio de pedras, ele adicionou a gordura do porco, e foi jogando os pedaços de carne aos poucos, espaçando cada uma, deixando sempre a gordura da carne virada para baixo, o cheiro subiu e o vento o espalhou. Os uivos aumentaram, Caim continuou cozinhando, mas um frio, uma sensação de ser observado, um cheiro de desejo de morte subiu no ar, um cheiro doce, bem típico de sangue fresco, um gosto metálico na gosta de Caim entregou a direção, era nas suas costas.
Caim avistou um homem albino, ele era claramente negro se não fosse albino, era seu irmão gêmeo, Abel, nu, os olhos vermelhos brilhavam, a única coisa que impedia a conexão direta dos dois era um riacho, Abel foi guiado pelo cheiro de comida e veio na direção por instinto, não reconhecia o irmão ou nenhum outro ser humano, Caim sabia disso. Caim, ao observar o irmão em tal estado, sorri, pega uma corda fina e a amarra ao cabo de uma frigideira que ele não usou e era pesada, e começa a girar a corda no ar, o zumbido da panela aumenta, Caim gira com mais força, ele nunca sorriu tanto na vida, a única coisa que ele tinha que fazer agora era controlar o instinto dele de matar, então ele girou com tanta perícia, velocidade e destreza que o som da panela que cortava o ar se tornou uma melodia maravilhosa para Caim, que a soltou, a frigideira voou com tanta velocidade que parecia uma flecha, tal projétil atingiu o diafragma de Abel com tamanha precisão que ele não teve tempo de reagir, apenas desmaiou e caiu no rio. Caim parou de sorrir, a felicidade dele durou pouco, agora ele entrou no riacho raso e foi atrás do seu irmão, ele teria que começar o exorcismo o mais rápido possível, então ele precisava tratar os ferimentos físicos do irmão primeiro.
Parabéns gostei bastante espero próximo capítulo
Parabéns gostei bastante espero próximo capítulo
Brabo demais, se tem um rei louco na história, eu sou o plebeu louco da vida real! Vou criar uma fanfic do Bluezao torando o Pipoca